Em qualquer triângulo retângulo que tenha um ângulo medindo x graus, a divisão do comprimento do cateto oposto ao ângulo (b) pelo comprimento da hipotenusa (a) dá sempre o mesmo número. Quando isto acontece e a conta é útil em muitos problemas práticos ou teóricos, o número ganha um nome para facilitar a vida. Neste caso em questão, o nome dado foi seno.
Um outro jeito de calculá-lo é tomar, num círculo de raio 1, um ângulo medindo 2x graus. O seno de x será a metade da corda AB,
determinada pelo ângulo. Esta foi a maneira usada pelo astrônomo e
matemático hindu Aryabhata (476-550 d.C.) para construir a primeira
tabela de senos de que temos notícia. Mas ele não chamou o seno de seno.
Chamou de "ardha-jiva" que quer dizer meia corda em sânscrito.
Com o tempo, o nome foi abreviado para jiva e nos textos árabes se
transforma em jiba (será que vem dos mouros a mania portuguesa e
espanhola de confundir b e v?).
A partir do século XI, a Europa cristã passa a ter acesso aos textos
árabes e os monges começam suas traduções para o latim. Me contaram que
essas traduções eram feitas, pelo menos no começo, a seis mãos: sentavam-se uma pessoa que soubesse árabe e o romanço local (um comerciante judeu em muitos casos), um monge (que conhecia o romanço e o latim) e um outro monge, que era o escriba. Quem sabia árabe lia em voz alta o texto, já traduzindo para o romanço. Um monge escutava e repetia em voz alta em latim e o outro anotava o que era dito em latim. Imaginem a quantidade de erros que isto produziu!Voltando ao nosso seno, em árabe nem sempre se explicita a posição das vogais numa palavra. Assim jiba, que não quer dizer nada em árabe, se escreve igual a jaib, que quer dizer baía, cavidade, curva. Nessa confusão da tradução a seis mãos, o primeiro achou que era jaib e o termo acabou sendo traduzido em latim por SINUS, que quer dizer curva, dobra (em português temos o adjetivo sinuoso, que deriva de sinus). Nossos textos científicos, muito posteriormente, vão aportuguesar o termo para seno.
