Desde 1957 que estamos enchendo os céus de entulho. Hoje temos quase 9.000 satélites e 23.000 outros objetos orbitando a terra. E vai piorar com a iniciativa privada: só as Starlinks colocaram 300 satélites em órbita entre 2019 e 2021 ( para aumentar a capacidade da internet). Estima-se que até 2028 teremos 15.000 satélites orbitando a terra.É um problema sério? É. Não só porque estamos enchendo o espaço de lixo, mas também podem voltar e cair sobre nossa cabeça (o grande medo da turma do Asterix). Mas a imagem, apesar de pedagógica, é enganadora.
O primeiro problema é o tamanho dos satélites. Tirando as duas estações espaciais (a internacional e a chinesa), o maior satélite hoje em órbita é o Sentinel 6A, lançado em 2020 para medir com precisão as mudanças de altura dos oceanos.
Desenho representado o satélite Sentinel 6A
Essa casinha dourada é mais ou menos do tamanho de uma caminhonete - mede 5,13 x 4,17 x 2,34 m. Comparando sua maior medida com o diâmetro da terra temosou seja, nada em comparação com a terra! Agora pense em 0,0000004 do diâmetro da terra no desenho!
Esses pontinhos brancos são muito grandes. Se todos os equipamentos e
entulhos fossem do tamanho da Sentinel 6A e colocássemos todos
enfileirados daria 0,0036 do diâmetro da terra.
O segundo erro da imagem é que se fosse como no desenho, basicamente a gente não conseguiria mais ver o céu. Na verdade, o espaço é bem vazio. Os satélites mais baixos orbitam a 500km da superfície da Terra e os mais altos, como os do GPS, a 35.000 km. Então, os 9.000 satélites mais os 23.000 outros equipamentos, orbitam numa casca entre 500 e 35.000 km que dá um volume de
A densidade de equipamentos será então de
ou seja, esperamos encontrar um equipamento em cada volume de 1000 km por 1000 km por 10000 km. Nada a ver com o desenho, não é?
Mas atenção: o desenho ser falso não quer dizer que devemos nos despreocupar com a lixarada que estamos colocando no espaço. Os que estão em órbitas baixas, entre 500 e 600 km, acabarão caindo de volta. Os outros ficarão lá para sempre. E vai chegar uma hora que sim, estaremos como na imagem, o céu entulhado de lixo espacial já obsoleto. E quando precisarmos de novos satélites para fazer funcionar nossos Waze, WhatsApp ou Facebook, não haverá mais espaço para colocá-los.
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Este texto foi inspirado na entrevista dada por Pierre Barthelemy ao podcast L'Heure du Monde, publicado no jornal Le Monde em 26 de novembro de 2021.
As fotos foram tiradas do site da Khan Academy e da página do ESA (European Spatial Agency).